domingo, 2 de junho de 2024

Ensaio sobre a individualidade e a coletividade.


Ensaio sobre a individualidade e a coletividade.

É sabido que insetos como as abelhas e as formigas possuem um sistema social coletivo; onde (quase) não há o indivíduo, mas sim um aglomerado de seres com um único propósito: a sobrevivência do coletivo; seja ele o formigueiro ou o enxame.

Os seres humanos, por outro lado, possuem um enorme senso de interindividualismo; deixando o coletivismo para questões bem pontuais, como união frente a guerras ou para combater desastres.

Obviamente não quero comparar humanos com insetos ou debater cultura (não ouvi falar de insetos compondo óperas ou escupindo o granito ou mesmo pintando quadros) mas colocar um assunto específico em pauta: uma sociedade individualista é superior a uma sociedade coletivista?

Inicialmente, temos de compreender mais sobre o Estado.

Thomas Hobbes, em sua obra “Leviatã”, apresenta uma visão singular e influente sobre a natureza do Estado e o papel do governo. Para Hobbes, o Leviatã é uma metáfora para o Estado, representando uma entidade poderosa e autoritária necessária para manter a ordem e a segurança na sociedade. São dois os aspectos mais importantes sobre o Leviatã: Hobbes utiliza a imagem do Leviatã, um monstro bíblico, para simbolizar o Estado. Essa entidade é composta por todos os indivíduos da sociedade, unidos sob uma única autoridade soberana. O Leviatã é um “Deus Mortal”, criado pela vontade humana através de um contrato social. Sobre o Contrato Social; Hobbes argumenta que, na ausência de um poder centralizado, os seres humanos vivem em um estado de natureza caracterizado por uma guerra de “todos contra todos” (bellum omnium contra omnes), onde a vida é “solitária, pobre, desagradável, brutal e curta”. Para escapar desse estado de natureza, os indivíduos concordam em formar uma sociedade e ceder parte de sua liberdade a um soberano em troca de segurança e ordem.

Ou seja: o Estado surge para proteger a ordenar a vida em sociedade.

Mas vamos aprofundar nosso debate.

A China

Vamos tomar como exemplo a China. No livro: "New China Playbook" de Keyu Jin, temos uma analisa do modelo econômico da China. A autora, economista e professora, explica como a China combina centralização política com descentralização econômica para obter crescimento. Destaca-se a importância da cultura chinesa, que prioriza o bem-estar coletivo sobre o individual. A meritocracia histórica facilita a administração moderna, enquanto políticas locais flexíveis incentivam o desenvolvimento. A abertura econômica desde 1978 permitiu parcerias estratégicas com empresas estrangeiras, impulsionando a inovação tecnológica. A China busca constantemente novas formas de organização e gestão, mantendo uma “economia de aprendizado” adaptativa e dinâmica, permitindo o sucesso da China; que não se deve à simples adesão ao socialismo ou ao capitalismo, mas sim a este sistema único que combina planejamento centralizado com tomada de decisão descentralizada.

Nem tudo são flores. Dentre as principais críticas ao modelo chinês, temos: restrição das liberdades individuais; supressão de minorias e direitos humanos; falta de participação democrática e o impacto psicológico e social (a ênfase no coletivo pode levar a uma conformidade social forçada, onde o medo de represálias impede a expressão individual. Isso pode criar um ambiente de autocensura e estresse psicológico).

Por outro lado, não podemos negar os avanços econômicos e a oficial erradicação da extrema pobreza na China. Em 2021, a China anunciou a erradicação da extrema pobreza, um feito histórico que tirou mais de 800 milhões de pessoas da miséria nas últimas décadas. Essa conquista, resultado de um modelo de desenvolvimento singular, oferece valiosas lições para o combate à pobreza em todo o mundo. Segundo o Banco Mundial, a taxa de pobreza extrema na China caiu de 88% em 1981 para menos de 0,5% em 2021.

Veja: não há questionamento sobre comunismo ou capitalismo. Sabe-se que a China é uma ditadura; mesmo sendo esta uma definição de difícil aplicação, no caso Chinês. A China possui muitas características associadas a regimes autoritários ou ditatoriais, especialmente no que diz respeito à centralização do poder político, a ausência de pluralismo político, a supressão de liberdades civis e a censura da mídia. No entanto, a complexidade de sua governança, com elementos de descentralização econômica e integração global, oferece uma imagem multifacetada que pode não se encaixar perfeitamente na definição tradicional de uma ditadura e gerar dúvidas para alguns.

De qualquer modo, é um exemplo de uma sociedade que foca no social e que releva o individual ao segundo plano. Primeiro por conta de sua cultura coletivista: a cultura chinesa tradicional valoriza o bem-estar do grupo acima das necessidades individuais. A harmonia social, a cooperação e o senso de comunidade são considerados princípios fundamentais. Em seguida, por conta da ênfase na responsabilidade social: a responsabilidade dos indivíduos para com a sociedade é fortemente enfatizada. O sucesso individual é frequentemente visto como resultado do apoio e do esforço coletivo, e não apenas do mérito individual. Não podemos esquecer a importância da família: a família é considerada a unidade básica da sociedade chinesa, e os laços familiares são muito fortes. Espera-se dos indivíduos que coloquem as necessidades da família acima das suas próprias.

Retorno aqui o tema central: é uma sociedade coletivista melhor que uma sociedade individualista?

Temos como exemplo de estado que prega o individualismo: os Estados Unidos da América (EUA).

A economia dos EUA nos últimos 20 anos (2004-2024) foi marcada por crescimento, mas com períodos de crise e desigualdade crescente. De que vale a nação crescer se seu povo fica pobre?

Os norte-americanos pregam um estado mínimo. A teoria do Estado Mínimo propõe uma intervenção mínima do governo, enfatizando a liberdade individual e a eficiência do mercado. Nos EUA, essa teoria tem influenciado várias políticas econômicas, especialmente durante administrações conservadoras. No entanto, ela enfrenta críticas por potencialmente aumentar a desigualdade e comprometer serviços públicos essenciais. Vale salientar que mesmos nos EUA, a teoria do Estado Mínimo é um ideal que nunca foi implementado. As políticas dos EUA sempre combinaram elementos de diferentes teorias políticas, incluindo o liberalismo, o conservadorismo e o socialismo.

Ou seja: pura bravata, estória para boi dormir; pois quando o cinto aperta, todos correm exigindo que o estado cumpra seu dever de cuidar de sua população, de seus interesses, seu bem-estar.

Temos então dois polos que podem ser analisados como opostos (e reforço que aqui a análise não trata de capitalismo ou comunismo; mas de maneira como a economia e a política é gerida): focar no social ou no individual?

Reflexão

Creio que os dados falam por si: mesmo com as fortes críticas ao modelo ditatorial da China, sua economia cresce e sua população saiu da pobreza extrema. Resta a China permitir maior liberdade individual e garantir as garantias individuais para ser um exemplo a ser seguido. Mas, isso ocorrerá?

Creio que não, mas é um caso a se pensar: focar no social e não no individual. Esta é a solução. Abraçar as diferenças, a pluralidade de ideias e permitir o crescimento da população e da economia, com o estado agindo como deve.

O Estado deve saber, simultaneamente, reforçar o social e permitir o crescimento do individual, com livre concorrência (leal) e propriedade privada garantida.

Reflitam.

Nenhum comentário:

Postar um comentário